MILAGRE: garoto supera tumor no cérebro e meningite com ajuda do futebol, na Paraíba

16/12/2018 - 09:01 - Gerais

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MILAGRE: garoto supera tumor no cérebro e meningite com ajuda do futebol, na Paraíba

Atualmente, Gabriel joga bola pelo menos seis dias por semana — Foto: TV Cabo Branco/Reprodução

 

“Ele ia para a fisioterapia, mas na cabeça de Gabriel, ele estava indo para um treino de futebol”. Marcus Varandas resume parte do processo de recuperação do filho dele, Gabriel Varandas, de um tumor no cérebro e de uma meningite, quando tinha oito anos de idade. Apaixonado pelo futebol, o garoto havia sido campeão sub-9 de futsal paraibano meses antes de descobrir a doença.


O torcedor mirim do Fluminense e do Botafogo da Paraíba, morador de João Pessoa, sempre gostou de jogar bola e, por volta dos cinco anos de idade, começou a treinar futsal e a se destacar no esporte. Aos seis anos, iniciou as participações em competições e, com a mesma idade, foi vice-campeão paraibano.


No entanto, em outubro de 2013, depois de vencer o campeonato estadual da faixa etária, o atleta do Clube Cabo Branco começou a sentir fortes dores de cabeça. Após dez dias seguidos com o mesmo problema, a médica indicou que a família consultasse um oftalmologista. Essa profissional, por sua vez, identificou que havia um problema no cérebro da criança e a encaminhou para o neurologista.


“A gente ficou alerta, fomos ao neuro no dia seguinte. E aí, quando estivemos lá, ele fez alguns exames químicos. [..] Ele nos disse que tinha ‘um carocinho na cabeça’ e que a gente precisaria fazer um exame de imagem, para saber onde estava e qual o tamanho dele. Foi detectado que ele estava com um tumor cerebral de quatro centímetros, localizado perto do cerebelo e que precisaria retirar com urgência”, disse o pai.

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Para as sessões de fisioterapia, Gabriel Varandas vestia roupa do clube de futsal em que jogava — Foto: Marcus Varandas/Arquivo pessoal


Após realizarem todos os exames necessários, Gabriel fez a cirurgia na mesma semana. “O cerebelo é o que dá o equilíbrio, então ele jogando muitas vezes se desequilibrava. E a gente achava que era um outro problema\", frisou.

 

\"Aí quando soube que era isso o argumento para poder ele ir tranquilo para o bloco [cirúrgico] foi ‘ó, você tem uma bolinha na cabeça, você vai tirar ela, vai melhorar seu equilíbrio e você vai sair daí jogando melhor do que você está’”, explicou Marcus.

 

“Quando encerrou a cirurgia os médicos nos chamaram e foram nos dizer que tinham conseguido tirar 99% do tumor, não tinham conseguido tirar tudo. Eles foram nos mostrar que o tumor estava maior do que eles imaginaram, em um local de difícil acesso, por isso que eles demoraram muito”, comentou.

O pai relatou que a equipe médica não estava com boas expectativas em relação à natureza do tumor que foi retirado, devido ao aspecto que ele tinha. Contudo, a tia de Marcus, que é patologista e ficou responsável por fazer a biópsia, se surpreendeu.


“Tudo indicava que seria o tumor mais maligno o possível para o cérebro. Quando foi na segunda de noite, ela foi nos visitar com o laudo. E quando ela nos entregou, entregou dizendo e chorando ‘olha, isso aqui é a segunda certidão de nascimento de Gabriel’”, disse.

À príncipio, de acordo com Marucs, ele e a esposa não entenderam a fala da tia, mas ela explicou que o resultado final dos exames estava diferente do esperado.


“Ela disse que quando chegou em casa colocou a amostra aos pés de Nossa Senhora, fez uma oração e foi dormir. Ela disse que quando acordou estava diferente e, quando fez os exames, surpreendentemente, deu o melhor tumor possível, que não tem poder de reprodução”, salientou.

A ida para casa e a volta para o hospital

 

Gabriel se recuperou de maneira rápida e, sem sequelas, recebeu alta poucos dias depois da cirurgia, conforme informado por Marcus. Entretanto, na mesma semana, o garoto apresentou uma febre e a mãe dele identificou uma espécie de pus na cicatriz na cabeça.


Com isso, o menino teve que ser levado, nos braços do pai, para o neurologista que o estava acompanhando e, em seguida, foi encaminhado para a unidade de terapia intensiva (UTI) de um hospital da capital paraibana.

Segundo Marcus, ao chegar na unidade de saúde, a criança fez uma tomografia e foi levada diretamente para o bloco cirúrgico, onde passou horas em um procedimento.

 

“O médico neurologista veio chorando conversar com a gente, dizendo que Gabriel tinha se encontrado com Deus no céu e Deus tinha mandado ele de volta para a terra\", comentou.

 

\"A gente não entendeu na hora direito. Bem depois a gente veio saber que ele teve uma parada cardio-respiratória, ficou cerca de um minuto e pouquinho desacordado. E, coisa que eu não sabia até um dia desses, o médico contou que Gabriel chegou a ter uma morte encefálica dentro do bloco”, relatou.

Posteriormente, os pais e os médicos descobriram que o atleta tinha adquirido uma bactéria, que se deslocou para o cérebro e resultou em uma meningite. Por conta disso, Gabriel ficou no penúltimo estágio de coma, por vários dias.

 

“Ele não tinha nenhuma melhora, pelo contrário, era, dia após dia, piora. Ele teve várias complicações. Na 2ª semana dele em coma, ele já estava entrando em estágio de falência de órgãos”, contou Marcus.

 

Apesar disso, o garoto começou a apresentar pequenas melhoras, o que a família atribui também às orações de diferentes religiões que eram direcionadas para ele. No 15º dia de coma, após uma decisão arriscada de um fisioterapeuta, o garoto foi desentubado e conseguiu respirar sozinho.

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Segundo o pai, após a meningite Gabriel ficou com sequelas, que incluíam uma paralisia em um dos lados do corpo dele — Foto: Marcus Varandas/Arquivo pessoal

No entanto, conforme os relatos do pai, o então campeão mirim de futsal ficou com o lado esquerdo do corpo paralisado. “Isso muito nos angustiava porque a vida de Gabriel era jogar bola. Ele não brincava de outra coisa a não ser bola, videogame era de futebol”, salientou.

 

A recuperação

 

Os pais de Gabriel precisaram montar uma estrutura de hospital em casa para recebê-lo. “Ele saiu do hospital sem ver, sem falar nem se mexer quase. Ele saiu no dia 15 de dezembro de 2013 e a gente iniciou todo esse processo dia 22 de outubro”, disse.


Embora o diagnóstico médico indicasse uma série de dificuldades, o garoto foi aos poucos se recuperando, com acompanhamento profissional.

 

“A gente fantasiava ele com roupa de futebol, ele ia fazer fisioterapia como se fosse um treino e foi começando a estimular e ele foi melhorando, começou a mexer um pouco a perna, mexer os dedos”, pontuou.

O jogador mirim chegou a ir receber o prêmio que havia conquistado com o clube e, em janeiro, já conseguia dar alguns passos. “Aí ao longo dos dias ele foi se recuperando, conseguiu voltar para o colégio, muito comemorado. E em março eu tive a ideia de conversar com o professor dele do futsal, para poder ele voltar a jogar, com as criancinhas de três quatro anos de idade, que é a menor idade que tem”, frisou.


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Ainda no processo de recuperação, Gabriel foi receber, junto com os colegas de time, taça que havia conquistado antes dos problemas de saúde — Foto: Marcus Varandas/Arquivo pessoal


“Só que ele mal andava sozinho e ele foi para o treino. E aí, no treino, ele andava um pouquinho e caía, andava um pouquinho e caía. Tentava dar um chute, caía. Mas ele fez isso durante uma hora sem parar, feliz da vida”, comentou.

Em abril, Gabriel conseguiu participar do primeiro treino sem cair. Hoje em dia, cerca de cinco anos depois, ele joga normalmente. “Treina dois dias futsal, dois dias futebol de campo e sábado e domingo joga bola para brincar o dia todo”, frisou.

 

“Durante todo o tempo o estímulo dele foi realmente poder jogar. O querer jogar, o poder jogar, foi o que estimulou ele para ter forças para poder evoluir”, disse Marcus.

 

Este ano, o garoto passou por exames que mostram que ele não tem mais sequelas. “Toda vez que ele vai para o médico, o médico olha e fala ‘cara, é inacreditável, não existe isso, nunca vi’”, destacou o pai.

Tímido, Gabriel não recorda de todos os problemas de saúde que teve e evita falar sobre o assunto, mas como o tema é futebol, ele ri e concorda com o pai, quando ele diz que o filho assiste todos os jogos, todos os dias. Apesar disso, contou que não pretende seguir carreira no esporte.

“Porque eu faço futsal desde pequeno, desde quatro, cinco anos e eu gostei muito e assisto futebol até hoje, mas é só por diversão mesmo”.

 

A história virou livro

 

Com 256 páginas, o livro “O Menino que Queria Jogar Futebol: uma história de fé e superação”, de autoria do jornalista Phelipe Caldas, narra toda a trajetória de Gabriel, com a proposta de levar o leitor a conhecer detalhadamente o processo de recuperação, embasado na fé e no amor ao esporte.

“O propósito do livro é poder ajudar pessoas, porque quando a gente estava lá dentro, a gente buscava em algum canto alguma história que pudesse a gente se apegar e dizer ‘cara, já deu certo com alguém, vai dar certo com a gente também’, e a gente não conseguiu achar nenhuma. Mesmo assim a gente acreditou”, comentou Marcus.

Na Paraíba, há pontos de venda do livro em João Pessoa, Campina Grande e Patos. Contudo, a obra também pode ser adquirida pela internet, por meio de uma página desenvolvida para a venda.

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A história de Gabriel virou livro e é contada pelo jornalista Phelipe Caldas — Foto: TV Cabo Branco/Reprodução

“A gente conviveu dois meses dentro da UTI, então a gente sabe como é uma UTI de criança, os pais como ficam, as angústias e tudo mais. Então o nosso objetivo com o livro é conseguir chegar no maior número de pessoas possível”, disse Marcus.

 

 

Por *Clara Rezende, G1 PB