29/05/2025 - 08:41 - Política
“Deus deixou o Sertão sem água porque sabia que eu ia ser presidente”, diz Lula durante entrega de obra hídrica na Paraíba, ao associar seca a missão divina
Durante a inauguração do Ramal do Apodi, em Cachoeira dos Índios, no Sertão paraibano, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva retomou nessa quarta-feira, 28 de maio, o discurso de aproximação entre sua história pessoal e as políticas públicas voltadas ao Nordeste. Em uma fala marcada por memórias da infância e pela recorrente menção à fome e à seca, o presidente afirmou que as dificuldades enfrentadas pela região teriam um propósito espiritual ligado à sua própria chegada ao cargo. “Deus deixou o Sertão sem água porque ele sabia que eu ia ser presidente”, disse.
A declaração foi feita diante de uma plateia formada por moradores da região, lideranças locais e representantes do governo federal, durante a cerimônia de entrega do ramal que faz parte do Projeto de Integração do Rio São Francisco. A obra tem como objetivo ampliar o abastecimento de água em áreas historicamente atingidas pela escassez hídrica e, segundo o governo, representa mais um passo na conclusão do projeto iniciado ainda no primeiro mandato de Lula.
Ao relembrar os obstáculos enfrentados na concepção e execução do projeto, o presidente mencionou as resistências de alguns estados nordestinos, que à época reivindicavam propriedade sobre o rio. Ele afirmou que insistiu na proposta com o argumento de que as águas do São Francisco pertencem “a Deus” e não a governos específicos. “Eu só quero pegar um pouquinho d’água”, disse, referindo-se ao repasse para regiões em situação crítica.
Lula também falou sobre sua saída de Pernambuco, aos sete anos, forçada pela seca que levou sua família a migrar para São Paulo. Segundo ele, o sofrimento da infância influenciou diretamente sua motivação para investir em políticas de combate à pobreza e garantir dignidade às populações do semiárido. “Era uma falta de possibilidade de conviver. Eu sempre me perguntava se era normal o povo ser tão castigado. Lia nos jornais: "a região com mais analfabetos é o Nordeste". E eu ficava me perguntando pra Deus o que o Nordeste tinha feito pra sofrer tanto. Eu não encontrava resposta”, declarou.
O presidente reforçou ainda que erradicar a fome no país segue sendo o principal objetivo de seu governo. Ele disse que, ao final do mandato, espera ter garantido que todos os brasileiros façam pelo menos três refeições por dia. “Porque eu sei o que é fome. Foi por causa da fome que minha mãe foi pra São Paulo.”
Com a inauguração do Ramal do Apodi, o governo busca consolidar uma das obras mais simbólicas de infraestrutura hídrica no país, cuja execução atravessou diferentes mandatos e foi marcada por prazos adiados. A entrega da estrutura representa, para o presidente, mais do que a conclusão de um projeto de engenharia. Ao vincular a seca do Sertão a um desígnio divino, Lula propôs uma leitura de trajetória pessoal que transforma o drama histórico da região em argumento político e justificativa de missão.
Blog do Jordan Bezerra
Com informações de MaisPB
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