Qual o futuro da Commonwealth após a morte da rainha Elizabeth II?

10/09/2022 - 14:33 - Opinião

Compartilhe:
Qual o futuro da Commonwealth após a morte da rainha Elizabeth II?

 

Ao longo dos seus 70 anos de reinado, que teve início na manhã de 6 de fevereiro de 1952, quando assumiu o trono após o falecimento do seu pai, o rei George VI, a rainha Elizabeth II, coroada em 2 de junho do ano seguinte, serviu como chefe de Estado de 32 países, a maioria deles colônias. Entretanto, no momento de sua morte, na última quinta-feira, aos 96 anos de idade, apenas 15 países faziam parte da Comunidade das Nações (a Commonwealth). 

 

 
Para a maioria dos seus súditos, a rainha representava uma mera presença cerimonial em suas vidas. Seu rosto aparecia em notas e moedas; primeiros-ministros a conheceram; parlamentos foram abertos em seu nome. Agora, com o rei Charles III assumindo o lugar de sua mãe, para alguns dos 15 reinos restantes, até mesmo essa interação limitada pode chegar ao fim.

 

 
Muitos veem a manutenção de vínculos com o monarca britânico como um anacronismo colonial. Em setembro de 2020, a primeira-ministra de Barbados, Mia Mottley, declarou: “Chegou a hora de deixar completamente nosso passado colonial para trás”. Em novembro do ano passado, seu país substituiu a rainha como chefe de Estado por Dame Sandra Mason, anteriormente governadora-geral e, agora, presidente do país. Antes de Barbados, o último país a romper os laços com a monarquia britânica foi Maurício, em 1992. 

 

 
A primeira-ministra da Nova Zelândia, Jacinda Ardern, já afirmou que espera que seu país também se torne uma república “ainda em vida”. Mesmo antes do falecimento da rainha, havia sinais de que alguns países enfrentavam uma complicada relação histórica com o antigo império britânico e estavam se preparando para mudanças. Agora, parece uma oportunidade para que eles façam essa ruptura de maneira diplomática.

 

 
A Austrália já considerou a ideia de se tornar uma república, realizando um referendo em 1999. Os resultados do referendo foram relativamente próximos, com os republicanos a favor de abandonar o monarca como chefe de Estado perdendo por um resultado de 45% a 55%.

 

 
Ao menos outros seis países caribenhos membros da Commonwealth, como Jamaica, Belize e Granada, também já deram sinais recentes de que pretendem abandonar a monarquia e tornarem-se repúblicas. O movimento em direção ao republicanismo baseia-se na crença de que é hora de as ex-colônias realmente viverem sua independência e reivindicarem a autodeterminação, não estando sob um sistema monárquico. 

 

 
No entanto, a realidade de se tornar uma república não é tão simples como parece, uma vez que isso envolve mudar a constituição de um país. No Canadá, por exemplo, é impossível mudar a constituição a menos que se obtenha o acordo de todas as províncias.

 

 
Porém, mesmo que esses países optem pelo fim da monarquia, não há como dizer que cortariam completamente os laços com a Commonwealth. Apesar de não ter mais o monarca como chefe de estado, Barbados optou por permanecer membro da Commonwealth. Também vale notar que dois países sem laços históricos com o Império Britânico já aderiram voluntariamente à associação, sendo o último Ruanda, em 2009.

 

 
Os desafios que o rei Charles III enfrentará pela frente são muitos. Já se passaram sete anos desde que um monarca britânico e chefe da Commonwealth visitou um dos Estados membros no exterior, mas isso provavelmente mudará com Charles. Aos 73 anos, ele está em uma posição muito melhor para realizar visitas oficiais internacionais, algo que a rainha Elizabeth II deixou de fazer em 2015. Porém, sabe-se que é improvável que ele embarque em alguma viagem sem um convite oficial dos países membros. E esse convite pode determinar a reaproximação ou o total rompimento com a monarquia britânica.

 

Por Ricardo Medeiros